sexta-feira, 29 de março de 2013

Sereia


Ela é uma sereia. Se não é uma sereia pra todos, é pelo menos um sereia pra mim. Seu corpo, seu olhar, seu toque e seu cantar são inigualáveis. Sem falar em seu hipnotizante sorriso. Tento me conter e me comportar. Prometi ser sensato e controlar meus instintos mas mais uma vez não foi possível. Suas pernas substituem muito bem sua cauda fora do mar, seu andar e seu rebolado são sobrenaturais.
“Mas, além de tudo que conhecemos, existe uma outra história, um outro conhecimento de ciência e espiritualidade, um nível supremo inimaginável do que é a magia, do poder sagrado da sexualidade, das forças da natureza, que podem aliar-se conosco, assim como também podemos nos unir a ela, sentindo-a parte nossa, voltando a recordar que somos parte sua.”
Já quis puni-la, talvez tirar a vida dela pelo o que ela fez com a minha mas no momento seguinte penso que talvez não seja maldade dela. Talvez seja simplesmente o seu jeito de ser  e viver. Machucou-me mais de uma vez mas não podemos castigar instintos naturais. As sereias não são malvadas, simplesmente se deixam levar por seus sentimentos e instintos e embora do nosso ponto de vista seja aparentemente uma forma selvagem de vida, para elas é um ato de amor.
Meu coração se dirigiu a ela e nunca mais voltou. O coração dela já veio até mim e foi embora muitas vezes.
"As asas da sereia são amor de mulher, que ela está pronta a dar e a retomar"Pierre de Beauvais.
Jean 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Chorão



O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo preparado para uma aula boa e outra ruim, nada fora do padrão. Já durante a segunda aula da manhã, recebi a notícia de que o Chorão havia morrido. Aquilo mexeu comigo. Minha aula predileta desse semestre se tornou desinteressante. Eu já não queria mais saber sobre a diferença entre ondas de oscilação e ondas de translação. Eu só queria pensar um pouco sobre a vida.
Primeiramente, pensei na falta que ele ia fazer. Não terei mais músicas novas do Charlie Brown para mexerem com a vida. E sempre que ouvir algo da banda, me lembrarei que o maior responsável por tudo aquilo faleceu. Chorão se foi. Isso não dava pra mudar mais. Restava-me aproveitar um pouco da sabedoria que ele nos deixou e logo me lembrei que ele cantava que “só o que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível”. Tenho certeza que ele não será esquecido por mim.
Chorão pregava muitas coisas que eu acreditava.  Sempre me lembro de pensamentos como “Um homem quando está em paz não quer guerra com ninguém” e “Podem me tirar tudo o que tenho, só não podem me tirar as coisas boas que já fiz pra quem eu amo”. Mas será que eu levo comigo o ideal de aproveitar a vida tão pregado pelo eterno skatista de Santos? Por muitas vezes acho que não.  Muitas coisas ficam sempre pra depois. Muitos lugares interessantes ficam esquecidos. Muitas atividades que poderiam me fazer bem e marcar minha vida ficam em segundo plano perante a rotina repetitiva e muitas vezes maçante.
Nunca fui a um show do Charlie Brown. Eu sempre deixava pra próxima e perdi a oportunidade. Agora não tenho mais a chance de ver pessoalmente uma das bandas que mais marcou minha vida. Quantas outras coisas eu perdi por que deixei pra depois? Quantos shows eu perdi? Quantas musicas eu não ouvi? Quantos lugares eu não visitei? Quantas pessoas eu não conheci?  Quantos sabores eu não experimentei?
O Charlie Brown eu não poderei mais ver. Espero que eu não perca outras coisas importantes na vida. Torço pra que minhas atitudes tenham mudado um pouco.
Jean Michell