Quinta-feira de manhã. Enquanto a
cafeteira funcionava, fui à janela checar o tempo. O céu estava cinza, mas não
tão melancólico quanto o meu estado de espírito. Minhas roupas eram pretas e
coincidiam com meu luto. Não havia perdido nenhum parente ou amigo, era a morte
de um sentimento.
Olhando um casal entrar em seu carro no
estacionamento, algumas lembranças de nós vieram à tona. Recordei do dia em que
nos conhecemos, do primeiro beijo, da sua risada a me ver cantando com meu
péssimo inglês. Dos beijinhos na testa quando eu estava triste e me levar um
chocolate sempre que pedia. O carro foi embora e com ele esses bons
momentos. Recordei-me de todas as coisas
ruins e das mágoas que elas deixaram. Das nossas brigas, de você ter ignorado meu
aniversário e ainda dizer que comemorações não eram importantes. Dos seus amigos fúteis e de você não ter
nenhum plano ou perspectiva para nós. Fechei meus olhos e senti meu coração
partido em mil pedaços. Ao mesmo tempo certo alívio, aquele momento em que você
não sente mais um nó na garganta. Eu não era mais uma criança para chorar
desconsoladamente, tinha que seguir firme, aliás... eu tinha um vida toda pela
frente. Lamentava por ainda gostar um pouco, mas era ciente de que aquilo não
me fazia bem, muito menos se concretizaria em algo duradouro. A cafeteira apitou, sinalizando que o café
estava pronto e em uma última olhada
pela janela pensei suspirando: acabou!
L.