quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

By:Bárbara Naves

Texto de uma amiga, que me senti na obrigação de compartilhar 

                                              
                                                          "Pobre que sou


 E as novidades do que foi? E no time, o que meu filho é? De minha mão perdi a idade, a paciência pra dores alheias. De minha mulher perdi os olhos, os afagos, os temores. Assuntos reservados. Contas em dia. Bocas caladas. Me perdi em tantos fios brancos de árvore, em tantas tintas entubadas e em tantas letras digitais que nem sinto mais o magnetismo da lua, nem o choro de um vizinho, nem o gosto do doce. Me perdi em pernas tristes, em corpos sem alma, em negócios lucrativos. Pobre de mim, que mar de papel pra conseguir conforto me foi trocado por companhia sincera, por amor sem demora e à espera. Me diz então, como posso estar mais perdido? Quero de novo ser o resposável por gargalhadas honestas, o irresponsável da barba mal feita e pai de meu filho. Quero me amar pelo que sou, sem orgulhos de ser esperto, de sonegar tão bem impostos tão bem encobertos. Me olhar no espelho e ver um homem, sem marcas nas roupas, tão pouco na consciência. Quero desabafar, afroxar meu peito apertado, respirar em ar menos abafado, ler sobre como as estrelas são antigas. Meu bem, quero te ter nos braços como se na minha cabeça mais cabelos houvessem, menos números e mais cores, como numa juventude passada, num verão antigo, num lençol amassado. Primeiro me desculpo com os que feri. Com os que caíram com meus empurrões, com os que nem a falta me foram suficientemente percebida. Me desculpo com os que faltei. Com os amigos do peito que mal festejei e com minha família que espantei. Peço desculpas a mim, por me deixar navegar em águas tão sujas e fedorentas, em corpos tão vagos e fraturados. Juro que estou sendo sincero. Juro! Mas me perdoar é difícil. Foi difícil me pedir perdão, me abrir os olhos quando o comodismo me encantou como uma sereia leviana, com a qual me joguei, sem barco, de roupa, com tudo, mas pedi pra voltar. Me vi em correnteza forte, mas sou mais forte que o que há. Continuo na correnteza, com braços firmes e abertos. Espero por mim à margem, espero por quem não esperei. Te espero na margem."

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